Hip Hop (da vida)

Surgiste na melhor altura,
De um sentimento que ainda perdura.
Foi súbito, por entre um turbilhão de emoções,
Decidi aceitar-te, de todas as condições.
A rua outrora escura passou a ser brilhante,
De dia para dia és cada vez mais entusiasmante.
Logo me comoveste,
Desde cedo me compreendeste.
Longas são as horas que me acompanhas,
Sem truques ou artimanhas,
Seja na vitória ou na derrota,
Sem pedir nada em troca.
A maior virtude, que a tua terra lavra,
É curar, até sem dizer uma única palavra.
Tu que ecoas no meu pensamento,
Cada momento de ti, é de puro e amplo conhecimento,
De mim, do outro,
Lição mais valiosa do que ouro.
Cada segundo de ti palpita no meu coração,
Como parte da minha certidão.
És uma eterna descarga de adrenalina e dopamina,
Pura antitoxina.
Seja mc, seja beatbox, seja graffiti, seja dj, seja breakdance,
Estás sempre ao nosso alcance.
De cada batida de ti surge,
A frequência sonora que a algo insurge.
Do risco que no teu prato se exerce,
Advém mais um alicerce.
De cada canção de ti aflora,
Uma descarga que se incorpora,
Nos poros, nos desafogos,
De todos os diálogos ou monólogos,
De todas as canções sem fim,
Que se desabotoam por entre folhas de cetim,
Repercutem-se por entre os concertos, impressões e amizades concebidas,
Onde muitas foram as mentalidades desinibidas.
De cada movimento de ti deriva,
A mais linda narrativa.
De cada "espirro de tinta" flui,
A criança que um dia fui.
Dessas linhas que se encontram,
E que do corpo, no coração, na alma e na mente jamais se apagam.
És tu, pura beleza,
Do golpe, és a destreza.
De cada pranto de inocência que me ajudaste a ultrapassar,
Foi mais uma razão para parar e pensar.
O rompante do semáforo intermitente,
Compasso de um sol latente.
Afastando-me da teia que nos envolve atento,
Que temos é de aproveitar o momento.
Subjacente ao sol que nos reanima,
Nutro-me por esta obra-prima.
Na maresia do meu consciente procuro a estabilidade,
E tu auxilias-me, perante cada adversidade.
Vais para além da personificação, és transcendente,
Pleno de ideias que libertas como uma lâmpada incandescente.
A liberdade que tu ofereces não tem preço,
A cada bocado de ti eu sempre enriqueço.
Cada passo de ti é uma chance e uma benção,
De dar azo à imaginação.
És fruto de uma relato alegórico da criação ou da realidade,
De uma relação intrínseca de cumplicidade.
A caneta na tua folha cria mundos e situações,
Para o autoconhecimento e ponderação das nossas ações.
Os teus valores de justiça respeito, diversão, paz e amizade,
São o espelho de como deveria ser a nossa comunidade.
Só a cultura liberta, dizia um indivíduo em missão,
E o mais certo é que esse é coeficiente da expressão,
No ritmo fugaz da existência que por vezes nos cega,
E para onde o barco de quando em vez partidas nos prega.
Fel ou mel eis a questão,
Ambos são necessários na equação.
Metamorfose no processo de crescimento,
Que se prolonga por todos os estádios de desenvolvimento.
És permanente e ficarás eternamente no mapa,
E quem em ti mergulha, jamais escapa,
Embora alguns julguem pela capa, é verdade,
Sempre procurei celebrar-te pela diversidade.
Mensageiro da palavra de ordem veracidade,
Num complexo da simplicidade,
Onde fissura a vida que nos prende,
Mas aliviada por quem nos entende.
Independentemente da idade, todos podem desfrutar,
Do timbre da eufonia que está por executar.
Sem entraves, nem fronteiras,
Criamos um espaço comum, quebramos barreiras.
Nas isoformas da vivência todos temos o nosso lugar,
Podemos sempre nos encontrar.
Como uma criança que se apaixona pelo seu brinquedo,
Contigo foi assim, genuíno desde cedo.
Na sonoplastia do teu mundo, existe muito por colorir,
Num horizonte vasto que está por florir.
Transportas contigo a maior arma,
A de mudar consciências, na vida que não desarma.
Dê-se visibilidade às palavras cegas e voz às palavras mudas,
Que muitos insistem em tornar surdas.
A galope desta métrica soa a liberdade de consciência,
Além do livre arbítrio e da resiliência.
Silenciemos e combatamos os vocábulos de ódio,
Da sua raiz até ao seu exódio.
Ainda que com contratempos, cada etapa foi e será saboreada,
Com a dinâmica da livre iniciativa de cada caminhada.
É longe do aparato que me cultivo,
Longe dos holofotes, mas perto do incentivo.
É por extenso que ao de cima imago,
Que és inseparável do meu âmago.
O meu carácter tornou-se capital,
Após a tua injeção vital.
Eternamente grato de um modo incondicional,
Esta cultura uniu-nos, numa linguagem universal.
Muitas foram as horas ganhas e nunca perdidas,
Pulsações alucinantes entre fases divididas.
Do sonho à realidade vai uma lufada de ar fresco,
Molda-o num fulgor aventuresco.
Constrói o significado do teu ser,
Para futuramente o fruto colher.